sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Nada a ver, mas... tudo a ver

Esse post poderia ter o subtítulo de: Livros - magia na vida real
(e vocês perceberam que ambos os títulos são uma porcaria, né? Haha, nem ligo)

Sendo meu blog uma espécie de diário (no qual escrevo quase que anualmente ¬¬), feito sobre uma viagem para a Europa, nada melhor que deixar aqui registradas minhas emoções de uma coleção infanto-juvenil que muito tem a ver com isso.

Malta me encantou por tudo que já comentei de natureza: país Europeu, porém QUENTE (você, brasileiro, que tira onda de que aguenta, prepare-se); Inglês como idioma co-oficial (com o Maltês) e historicamente rico de uma forma que eu jamais poderia imaginar.
Como o combinado foi que minha mãe e meu irmão iriam comigo, sabia que meus destinos adicionais não seriam tipo 15, como num mochilão, e sim uma coisa mais contida, planejada. Mais pra 2 ou 3 países. Foi necessário, então, que entrássemos em um consenso, e, por motivos de admiração por história antiga, determinamos que os locais a serem visitados seriam Grécia e Itália. Por toda aquela história das grandes civilizações, e das culturas gregas e romanas. Os deuses! Isso nos encantava (encanta) tanto!

Desde 2012 eu acompanhava a série de livros Percy Jackson, de Rick Riordan, e a mamãe e o Danilo também haviam lido (paixão de família). Apesar da história se passar basicamente na América do Norte - mais precisamente nos Estados Unidos (onde os deuses, modernos que são, acompanham a concentração de poder da humanidade, e agora residem no topo do Empire State Building - você acredita nisso?), a narrativa curiosa e inteligente mantinha em nós uma adoração e interesse pelo Olimpo e todos seus "habitantes". E os romanos... bem, vieram de quebra. [Rick havia feito logo em seguida sua nova coleção onde misturava semideuses romanos na história... eu estava lendo, mas já não entendia mais nada! A cada três ou quatro capítulos mudava quem é que estava narrando. E o Percy sem memória... tudo muito louco!]

Definidos os destinos, optamos por ir à Grécia primeiro e depois "voltar", sentido Ocidente. 12 horas de viagem só até Roma (nossa conexão), mais umas 4 de aeroporto e 2 horas e meia até Atenas. Levei o livro comigo, obviamente. Mas em três meses e meio de Europa, acabei lendo meio livro (terminei este) e comecei o seguinte da coleção, muito, mas muito desatenta ao coitado. Acabou que não me empolgou - ler ou conhecer uma praia diferente a cada dia? Ler ou ir à balada da Europa? Você, o que faria? -, e não li com a voracidade que estou acostumada. Voltei pra casa e com tantos altos e baixos da vida, inúmeros volumes da faculdade para ler, aí que desisti mesmo dos Herois do Olimpo. Normal. Quem nunca abandonou um livro na vida que atire a primeira pedra.

Mas conforme o ano foi avançando e o livro foi me encarando na prateleira, minha curiosidade foi aguçada e eu precisava retomar a história de onde havia parado. Mesmo depois de alguns (muitos) meses, lembrei imediatamente onde a aventura estava e pude prosseguir. Meu irmão - que já havia terminado - me dissera que a tendência era ficar mais emocionante dali pra frente. E lá fui eu. De duas semanas pra cá me joguei intensamente e lia o dia inteiro, ansiosa por saber o final.

E foi quando a magia começou a acontecer:

Os semideuses tinham missões a cumprir no mundo antigo e, sem que eu imaginasse, foram passando por muitos dos lugares nos quais eu havia estado. E a descrição de cada um deles me fez sorrir e emocionar de forma única! Feliz com as lembranças, triste por não estar mais lá e orgulhosa de conhecer cenários tão especiais que são emprestados para um livro de ficção (no qual um autor pode criar, mas não conseguiu imaginar nada melhor que o que já existe).

Com um misto de saudade, que é um sentimento exclusivamente brasileiro (sou egoísta, sim!), e anseios para o futuro, fui me imaginando caminhando ao lado dos herois dos meus livros pelas vielas romanas, "avenidas" e cafés de Valletta (que, por sinal, fica em Malta e é a capital do país) e toda a Acrópole grega. Imaginei que eles poderiam ter passado ao meu lado, a cada momento de pressa meu, que deixei de olhar as pessoas à minha volta. Imaginei que poderia tê-los visto lutar - ou não, já que sou uma simples mortal e a Névoa jamais permitiria.

Dizem que a verdade ilha que vivia a ninfa do mar, Calipso, era Gozo (belíssima ilha do arquipélago de Malta que vale a pena conhecer!), que no livro grego Odisseia, de Homero, aparece sob o nome mítico de Ogígia - ilha que não está em mapa algum e nenhum heroi jamais a encontra duas vezes. Está é Gozo! Existe uma caverna dedicada a Calipso lá, na praia de Ir-Ramla l-Ħamra, nome maltês que significa "praia de areia vermelha", mas você pode encontrá-la mais facilmente por Ramla Bay.

Voltando à conexão com os livros, foi tão emocionante porque imaginei tudo isso. Me senti tão bem hoje ao ler a última página que consegui escrever num blog há meses abandonado. E não acho que haveria lugar melhor para me expressar.

Por isso, viva a vida. Viaje. Tenho certeza que também teria gostado do livro caso ficasse apenas na minha casinha, lendo. Mas associar com algo já vivido e saber que pelo menos parte dessa magia é real que é tão envolvente. E não é apenas nas aventuras de Percy Jackson, não para por aí. A cada filme ou reportagem que passa na TV sobre algum desses lugares, a mensagem pode até ser ruim, mas sempre vai me lembrar algo bom que vivi. E isso não tem preço.

Quero colecionar lugares, mas sem pressa. Aproveitando. Sendo feliz e tendo tantas boas lembranças em cada um deles quanto tenho do meu intercâmbio e de Malta. Que é, realmente, um lugar mágico. Você não vai se arrepender! ;)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quando você começa a sentir na pele o intercâmbio

texto de 19 de agosto de 2014

O tempo que isso leva depende de cada um. É uma complexa fórmula matemática que depende de elementos como: duração da viagem, equilíbrio emocional, dinheiro (sim!) e amizades. Por "sentir na pele" eu me refiro tanto ao lado bom quanto ao ruim. 
Cheguei aqui há dezessete dias. Os primeiros com a minha mãe e meu irmão; eu fiquei na minha "casinha" para ir me acostumando, e eles se hospedaram aqui perto. A ideia de que essa seria minha vida nos próximos três meses mexeu muito comigo, senti todas as emoções ao mesmo tempo e muito fortemente. Em relação à despedida deles, não foi fácil - sob aspecto algum. Meus sentimentos confusos afetaram e pioraram as coisas. 
Então eles partiram. E eu fiquei aqui completamente perdida na batatinha. Sem as três pessoas que fazem meu mundo completo. Papai eu não vejo há quase 30 dias. Mamãe e Nilo agora já me fazem tanta falta quanto.

Sabe, eu nunca tive o sonho de ser maior de idade e ter minha própria casa. Sempre nos demos muito bem, não tenho necessidade disso. E agora a realidade que eu vivo é essa: lavar minha roupa e não passar (não, caro futuro intercambista: você não passará roupa alguma - trate de comprar roupas práticas), fazer a própria comida, pegar ônibus, ir ao hospital sozinha, se necessário. Sinto que vou aprender a viver. 

Minhas habilidades culinárias estão cada vez melhores. "Só que não". Depois de duas semanas comendo em redes de fastfood e restaurantes (e gastando cerca de 350 euros), nessa semana eu finalmente tomei vergonha na cara e resolvi ir ao mercado e comprar comida. Gastei 40 euros e comprei bastante coisa. Acredito que vai durar.

* Dica: quem mora em Sliema tem uma excelente opção de mercado, que é o Tower, da rede Carrefour, os preços são ótimos e a variedade é grande. O Scotts também é bem bacana, apesar de ser menor, e foi onde eu encontrei leite condensado Nestlé e carne importada da Argentina (que é uma vez ou outra, para "ostentar", pois custa caro). Em outros pontos de Malta tem também a rede Lidl, que vende por atacado, e vale a pena se você juntar uma galera para fazer compras. 


 Meu dia de ir ao mercado é segunda-feira. Como a gente sai um pouco mais tarde da escola, já não dá mais para passear ou planejar nada, então nós, brazucas do Days Inn Residence, vamos ao Tower e fazemos a festa.
O que eu posso dizer a vocês é que tudo que eu achava que cozinhava em casa, no microondas, é mentira. Porque aqui tive de pôr a mão na massa e cozinhar no fogão - que é elétrico -, e meu arroz quando não queima, empapa. Maravilhoso. O "feijão" do Rodrigo também não é lá aquelas coisas, então juntamos meu arroz ruim com o feijão dele pior ainda e fazemos uma bela refeição!
Mas um dia eu juro que aprendo... Ainda tenho tempo aqui, mal comecei a europar ;)

Superando a DPE (Depressão Pós Europa)

Depois de três meses vivendo o sonho, a realidade me ligou e mandou voltar. Ainda bem, pois se ela não ligasse, eu mesma ligaria. Não aguentava mais de saudade de casa, dos meus pais, irmão, família e amigos em geral. Saudades da minha praia - que de Mar Mediterrâneo não tem nada, mas não importa. 
Então eu vim embora. Mas fiquei algum tempo ainda digerindo a ideia. Tanta loucura! Uma situação que eu nunca imaginei enfrentar na vida... Hoje, eu finalmente superei a DPE - Depressão Pós Europa; superei também minha doença, e já posso falar a respeito. 
Criei esse blog com a intenção de orientar futuros intercambistas, não só em Malta, mas no mundo inteiro, e de divertir com as histórias mais insanas que você enfrenta quando é um brasileiro perdidão na Europa. Obviamente, sem esquecer de que esse seria meu arquivo pessoal, para salvar todas essas lembranças, quando a memória falhar. 
Acabei não levando a sério a proposta. No entanto, agora, mesmo após alguns meses, sei que ainda posso detalhar o que vivi. Então prepare-se: você que vai viajar, ou você que só quer rir comigo, bem-vindo à vida da Bel em Malta