segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quando você começa a sentir na pele o intercâmbio

texto de 19 de agosto de 2014

O tempo que isso leva depende de cada um. É uma complexa fórmula matemática que depende de elementos como: duração da viagem, equilíbrio emocional, dinheiro (sim!) e amizades. Por "sentir na pele" eu me refiro tanto ao lado bom quanto ao ruim. 
Cheguei aqui há dezessete dias. Os primeiros com a minha mãe e meu irmão; eu fiquei na minha "casinha" para ir me acostumando, e eles se hospedaram aqui perto. A ideia de que essa seria minha vida nos próximos três meses mexeu muito comigo, senti todas as emoções ao mesmo tempo e muito fortemente. Em relação à despedida deles, não foi fácil - sob aspecto algum. Meus sentimentos confusos afetaram e pioraram as coisas. 
Então eles partiram. E eu fiquei aqui completamente perdida na batatinha. Sem as três pessoas que fazem meu mundo completo. Papai eu não vejo há quase 30 dias. Mamãe e Nilo agora já me fazem tanta falta quanto.

Sabe, eu nunca tive o sonho de ser maior de idade e ter minha própria casa. Sempre nos demos muito bem, não tenho necessidade disso. E agora a realidade que eu vivo é essa: lavar minha roupa e não passar (não, caro futuro intercambista: você não passará roupa alguma - trate de comprar roupas práticas), fazer a própria comida, pegar ônibus, ir ao hospital sozinha, se necessário. Sinto que vou aprender a viver. 

Minhas habilidades culinárias estão cada vez melhores. "Só que não". Depois de duas semanas comendo em redes de fastfood e restaurantes (e gastando cerca de 350 euros), nessa semana eu finalmente tomei vergonha na cara e resolvi ir ao mercado e comprar comida. Gastei 40 euros e comprei bastante coisa. Acredito que vai durar.

* Dica: quem mora em Sliema tem uma excelente opção de mercado, que é o Tower, da rede Carrefour, os preços são ótimos e a variedade é grande. O Scotts também é bem bacana, apesar de ser menor, e foi onde eu encontrei leite condensado Nestlé e carne importada da Argentina (que é uma vez ou outra, para "ostentar", pois custa caro). Em outros pontos de Malta tem também a rede Lidl, que vende por atacado, e vale a pena se você juntar uma galera para fazer compras. 


 Meu dia de ir ao mercado é segunda-feira. Como a gente sai um pouco mais tarde da escola, já não dá mais para passear ou planejar nada, então nós, brazucas do Days Inn Residence, vamos ao Tower e fazemos a festa.
O que eu posso dizer a vocês é que tudo que eu achava que cozinhava em casa, no microondas, é mentira. Porque aqui tive de pôr a mão na massa e cozinhar no fogão - que é elétrico -, e meu arroz quando não queima, empapa. Maravilhoso. O "feijão" do Rodrigo também não é lá aquelas coisas, então juntamos meu arroz ruim com o feijão dele pior ainda e fazemos uma bela refeição!
Mas um dia eu juro que aprendo... Ainda tenho tempo aqui, mal comecei a europar ;)

Superando a DPE (Depressão Pós Europa)

Depois de três meses vivendo o sonho, a realidade me ligou e mandou voltar. Ainda bem, pois se ela não ligasse, eu mesma ligaria. Não aguentava mais de saudade de casa, dos meus pais, irmão, família e amigos em geral. Saudades da minha praia - que de Mar Mediterrâneo não tem nada, mas não importa. 
Então eu vim embora. Mas fiquei algum tempo ainda digerindo a ideia. Tanta loucura! Uma situação que eu nunca imaginei enfrentar na vida... Hoje, eu finalmente superei a DPE - Depressão Pós Europa; superei também minha doença, e já posso falar a respeito. 
Criei esse blog com a intenção de orientar futuros intercambistas, não só em Malta, mas no mundo inteiro, e de divertir com as histórias mais insanas que você enfrenta quando é um brasileiro perdidão na Europa. Obviamente, sem esquecer de que esse seria meu arquivo pessoal, para salvar todas essas lembranças, quando a memória falhar. 
Acabei não levando a sério a proposta. No entanto, agora, mesmo após alguns meses, sei que ainda posso detalhar o que vivi. Então prepare-se: você que vai viajar, ou você que só quer rir comigo, bem-vindo à vida da Bel em Malta